Golpe do Produto Não Entregue: como identificar, evitar e agir se acontecer

O golpe do “produto não entregue” está mais sofisticado: sites bonitos, preços “normais” e pressa para pagar no PIX podem esconder armadilhas.

FIQUE SABENDO!

Contadora Shyrlene Chicanelle

8/29/20256 min read

O golpe do “produto não entregue” parece uma compra normal pela internet, mas a loja não existe (ou não pretende entregar). Hoje os golpistas criam sites e perfis muito bonitos, pagam anúncios, cobram preços normais (nada de “barato demais”) e empurram você a pagar rápido, de preferência por PIX.
A melhor defesa é fazer uma auditoria simples antes de cada compra. Abaixo está tudo, em passos fáceis.

1) Como a fraude funciona hoje: a “máscara da idoneidade” (entenda a lógica)

Quadrilhas criam a ilusão de loja confiável em 3 etapas:

Fase 1 — “Entrega exemplar”

Eles vendem e entregam direitinho no começo. Resultado: surgem avaliações positivas, comentários elogiando a entrega, fotos de clientes, etc. Parece uma loja séria.

Exemplo: você vê comentários do tipo “Chegou certinho!” ou “Atendimento rápido”. Isso é planejado para ganhar sua confiança.

Fase 2 — “Atraso educado”

Com mais vendas, começam atrasos. As pessoas reclamam, e a “loja” responde com educação, promete resolver e entrega depois para manter nota alta nos sites de reclamação.

Exemplo: “Pedimos desculpas. Seu produto já está a caminho.” A avaliação do atendimento fica “ótima”, e mais pessoas compram.

Fase 3 — “Sumiço em massa”

Quando já faturaram muito, a “loja” para de entregar, derruba os contatos, fecha o site, troca de CNPJ e volta com outro nome.

Ponto-chave: o preço é competitivo (parecido com o mercado). Isso tira seu alerta (“não está barato demais, então deve ser confiável”).

2) Verificação em 5 passos (antes de pagar) — bem mastigado

Faça pelo menos 3 dos 5 passos abaixo. Se dois ou mais derem errado, não compre.

1. Conexão segura (HTTPS)

  • O que é: todo site confiável usa cadeado na barra do navegador.

  • Como conferir no celular: toque no cadeado ao lado do endereço do site → escolha “Detalhes” ou “Certificado”.

  • O que esperar: deve abrir uma janela com informações do certificado. Se nada abrir ou aparecer aviso de site inseguro, pare.

Por que isso importa? O cadeado mostra que a conexão é protegida. Golpistas às vezes fingem o ícone, mas ao tocar não abre os detalhes.

2. CNPJ da loja (registro no Brasil)

  • Onde achar: normalmente no rodapé do site (“CNPJ: 00.000.000/0000-00”).

  • O que fazer: copie esse número e consulte no site da Receita Federal (busca do CNPJ).

  • O que procurar: Situação: Ativa e tempo de atividade (evite empresa aberta “ontem” para vender “hoje”).

Dica simples: se não encontrar CNPJ nenhum, ou se aparecer “inativa/suspensa”, abandone a compra.

3. Formas de pagamento (se puder, use cartão)

  • Mais seguro: Cartão de crédito (permite chargeback em caso de “produto não entregue”).

  • Sinal de alerta:desconto só no PIX/boleto” e pressão no tempo. O PIX é rápido e irreversível — por isso golpistas preferem.

Regra prática: se só vale a pena no PIX, redobre as checagens anteriores.

4. Canais de contato (teste de realidade)

  • O que fazer: procure telefone/WhatsApp/e-mail. Envie uma pergunta simples (ex.: “Qual o prazo para minha cidade?”) e aguarde.

  • Valide o endereço: jogue o endereço no Google Maps. Veja se é comércio real ou terreno/galpão sem placa.

Sinal de segurança: alguém responde, de forma coerente, e o endereço existe.

5. Reputação (pesquisa rápida fora do site)

  • O que fazer: pesquise “Razão Social da empresa + golpe/fraude/reclamação”.

  • Onde ver: Procon, portais de reclamação, notícias locais, redes sociais.

Atenção: quadrilhas falsificam selos de reputação. Se o site deles fala bem, desconfie.

Regra prática (reformulada): se dois ou mais desses cheques não passarem, interrompa a compra e procure outra loja.

3) Psicologia do golpe: urgência + escassez (o truque mental)

  • Urgência: “Só hoje”, “Acaba em 10 min”. Isso tira seu tempo de pensar.

  • Escassez: “Últimas unidades”. Faz você temer perder a chance.

  • Preço competitivo: não é barato demais — é só um pouco abaixo do normal, o suficiente para você pensar “é um bom negócio”.

Antídoto prático: faça uma pausa de 2 minutos para aplicar os 5 passos. Se a loja não passar na verificação, não era oportunidade, era armadilha.

4) PIX x Cartão: por que o meio de pagamento decide o seu destino

PIX (preferido por golpistas)

  • Como funciona: o dinheiro sai na hora e é difícil reverter.

  • Risco: valor pode sumir em minutos, indo para várias contas.

Cartão de crédito (mais proteção)

  • Vantagem: você pode abrir chargeback (disputa formal por produto não entregue). O banco analisa e, havendo indícios, estorna.

Golpes comuns ligados ao PIX (para não cair)

  • QR Code falso: você pensa que paga a loja, mas paga o golpista.

  • “PIX por engano, me devolve?”: nunca faça novo PIX. Use a função “devolver” dentro do extrato da transação (é seguro e rastreável).

Resumo: se a loja força PIX com “descontão”, pare, verifique e considere pagar no cartão.

5) Logística enganosa: rastreio e “pendência alfandegária”

Rastreio falso (para enrolar você)

  • Enviam um código de rastreio que não é da sua compra (ou já foi usado por outra pessoa).

  • Você consulta e parece “em trânsito”, mas nunca chega.

Como checar: no app dos Correios/transportadora, veja se o rastreamento aparece ligado ao seu CPF/cadastro. Se não ligar, é suspeito.

“Taxa para liberar” (a segunda picaretagem)

  • Vem mensagem (e-mail/SMS/WhatsApp) dizendo que há taxa/imposto para liberar sua encomenda.

  • O link leva a um site falso que imita a marca do correio ou da transportadora.

Como agir: não pague. Acesse direto o site/app da transportadora (sem clicar em links) e verifique por lá.

6) Fui vítima: plano de ação imediato (na ordem certa)

Quanto antes agir, maior a chance de recuperar.

1) Fale com o banco/app (primeiro passo)

  • Se foi PIX: peça o Mecanismo Especial de Devolução (MED) agora. Diga: “Quero acionar o MED por fraude (produto não entregue)”.

  • Se foi cartão: abra disputa/chargeback por “produto não entregue”. O banco explica como enviar provas.

O que dizer (roteiro curto):
“Realizei uma compra on-line, valor R$ X, data Y. A loja não entregou e não responde. Quero abrir disputa/chargeback (cartão) / acionar MED (PIX). Tenho prints e comprovantes.”

2) Boletim de Ocorrência (BO)

  • Onde: delegacia virtual do seu estado ou presencial.

  • Por quê: formaliza o crime e ajuda em banco/Procon/justiça.

3) Junte as provas (quanto mais, melhor)

  • Prints do anúncio/site (inclua URL),

  • Comprovantes (PIX, boleto, fatura do cartão),

  • Conversas com a “loja”,

  • Dados do pedido (número, prazo, rastreio).

Dica: salve tudo em PDF com nomes claros (ex.: “comprovante-pagamento-28-09.pdf”).

4) Defesa do consumidor

  • Registre reclamação no Procon e no Consumidor.gov.br (mediação oficial).

  • Tenha o BO e as provas em mãos.

5) Denuncie as plataformas (opcional, ajuda outros)

  • Nos formulários do Facebook/Instagram/Google, envie link do anúncio, prints e descreva a fraude.

Linha do tempo sugerida

  • Até 1 hora: MED/chargeback + começar a juntar provas.

  • Mesmo dia: BO + abertura no Procon/Consumidor.gov.br.

  • 48–72 horas: acompanhar retornos do banco e protocolos; reforçar denúncias se necessário.

7) Checklist do comprador (copie e use sempre)

  • O cadeado HTTPS abre um certificado válido ao tocar.

  • O CNPJ está ativo e tem histórico (evite empresas recém-criadas).

  • Contato funciona (telefone/e-mail respondem) e endereço confere no mapa.

  • Prefira pagar no cartão (há chargeback se algo der errado).

  • Fiz a pausa de 2 minutos para checar preço, pressa e reputação antes de pagar.

FAQ (respostas rápidas)

1) “Desconto só no PIX” é sinal de golpe?
Não é regra absoluta, mas aumenta muito o risco. Faça a verificação completa e prefira cartão.

2) Paguei no cartão. Dá para recuperar?
Sim. Abra chargeback por “produto não entregue” e anexe provas. A administradora analisa e pode estornar.

3) O rastreio parece andar, mas nada chega. O que faço?
Confira se o código vincula ao seu CPF no app da transportadora/Correios. Se não, junte provas e abra disputa (banco/Procon/Consumidor.gov.br).

4) Recebi um PIX “por engano”. Devolvo?
Use somente o botão “devolver” dentro do extrato da transação. Nunca faça novo PIX manualmente.

Conclusão SC Contabilidade

Comprar on-line com segurança hoje exige verificações simples e constantes. Site bonito e preço normal não bastam. Seu checklist de 5 passos e a escolha do pagamento fazem a diferença entre compra segura e prejuízo.